Ontem fui ao cinema assistir Eu Te Amo, Cara. Tinha lido sobre ele na Veja, e achei interessante conferir. Pra quem ainda não viu, é a estória de um cara que, às vésperas de seu casamento, descobre que não tem um único amigo próximo, consequentemente, um padrinho. E resolve sair à caça de um amigo.
A princípio parece ser um filme descartável, daqueles que você assiste, se diverte, dá algumas boas risadas e uma semana depois não se lembra de mais nada (alguém aqui lembra dos filmes que Meg Ryan fez com Tom Hanks? Sim, foram mais de um!). Mas não é. Ao menos não foi pra mim. Fiquei pensando na proposta dele em ser o primeiro filme a colocar a "Bromance" como estória principal, e na definição dada pela crítica Isabela Boscov à palavra Bromance (a mistura de 'brother com romance'):
o amor intenso, estritamente não gay, entre homens heterossexuais. Não sei se é uma definição pessoal dela, ou se foi pescada de algum crítico americano, mas me faz pensar em duas coisas:
Primeiro: É legal que um país sabidamente conservador, onde a distancia (fisica, inclusive) é algo valorizado, esteja fazendo filmes, no inicio timidamente, agora mais explicitamente, sobre homens que se tocam, se abraçam, (ainda não) se beijam e dizem 'Eu te amo'. Isso sem nenhuma conotação sexual. É mais legal ainda ver que essa mudança ocorre não só lá, mas aqui também, um país latino, e até por isso, machista. Ou você vai me dizer que nunca abraçou, beijou e/ou disse 'Eu te amo' a um amigo?
Segundo: É chato que uma mudança como essa tenha, ainda, uma certa dose de preconceito, desde a sua definição. Eu não sei como é lá nos EEUU. Na verdade, eu não sei nem como é aqui no Brasil, embora eu espere mesmo que as coisas estejam mudando. Mas sei como é na minha turma e em algumas outras turmas. E eu, que sou o mais velho da turma, e já tive outras turmas, vejo uma mudança grande, não só de atitude, mas de pensamento mesmo. Há 20 anos atrás praticamente não se via um heterossexual ter um amigo gay. O cara podia até achar o outro um cara legal e tal, mas ser amigo era 'queimação de filme'. Com o passar do tempo e a onda do políticamente correto, passou a ser massa ter/afirmar que tinha um amigo gay, nem que fosse só pra dizer 'Eu não tenho preconceito, tenho até um amigo gay', como uma minoria faz até hoje com o amigo negro. Ate que hoje em dia, e aí eu repito, não sei se é uma mudança geral, ou se restrita a alguns grupos, mais e mais gays e não gays tem se tornado amigos de verdade. Sem que se precise diferenciar isso. Não se é amigo do cara
mesmo sendo ele gay. Se é amigo, e pronto! Na minha turma, que tem gays e não gays, todo mundo se gosta genuinamente, se curte, se ajuda, se abraça, se beija e diz 'Eu te amo' mesmo.
Dai que eu proponho, dona Isabela Moscov, que a senhora modifique sua definição de 'Bromance', passando a ser algo do tipo
'o amor intenso, estritamente não sexual, entre homens'.